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Verão de 62...

1/3/2021

 
Verão de 62
Um Verão que me marcou.
Eu e o meu avô fazíamos anos no mesmo mês , com 15 dias de diferença.
Era o dia dos anos do meu avô e fomos  jantar a casa deles, em frente á nossa.
Nessa altura, vivíamos por cima da Vinícola e o quintal fazia parte da casa. Ao nosso lado, vivia a Clarisse, que tinha 3 filhos: a Lena, da idade da minha prima, o Jorge, que era da minha idade e a Manuela mais nova que eu e no andar de cima vivia  a d. Ester, a mãe, já viúva há uns anos do sr. Anselmo.
Em frente da Clarisse, numa casa que já foi deitada abaixo, vivia o Sr. Arrais, com a D. Augusta e os filhos , o Víctor e o Carlos, quer era da mesma idade do meu irmão. O Victor tinha a mesma idade do meu primo Luís António.
Os putos brincavam todos. Se algum de nós ficava doente…lá vinha o Dr. Paiva, que dava a volta a todos  a ver se algum tinha pegado aos outros.
Neste Verão, o Sr. Arrais já tinha deixado a rua e tinha-se instalado na entrada de Pombal, quase perto da Fonte do Emporão.
Como sempre fomos jantar a casa dos avós para festejar os anos do avô. O jantar decorreu normalmente, na sala de jantar porque era dia de festa. Depois meu pai e meus irmãos foram para casa. Eu e minha mãe ficamos a arrumar a mesa, etc.
Era quase meia noite, quando nos despedimos da avó…Meu avô já tinha subido para se deitar.
Ainda nem tínhamos apagado a luz da escada, batem à porta  com muita força, tinha um batente em forma de mão…era minha avó, chamando o meu pai, para ir ajudar o avô que tinha caído…
Lá foi meu pai de pijama a correr…era pau para toda a obra…era ele quem nos dava as injecções…etc…
O avô estava caído e tinha batido com a sobrancelha no mármore da cómoda…tinha tido uma trombose. Já se tinha chamado o Dr. Paiva que minutos depois estava ali. E meu avô sem dar acordo…o Dr. disse que estava em estado de coma.
E em coma continuou nos 4 dias seguintes.  Eu disse que ia para casa, mas minha mãe não me deixou. Ali fiquei os os 5 dias seguintes.  Dormia vestida, na salinha de leitura ao lado do quarto dos avòs. E naquela altura, tinham por costume, as vizinhas e amigas, irem fazer um pouco de velório…Chegavam depois de jantar, algumas já tinham estado de tarde e ali ficavam sentadas no corredor, junto da porta do quarto do meu avô… A D. Lindó, irmã do sr. António Serrano, a D. Ester, a mulher do sr. Neca Serrano, e mais algumas…conversavam em voz baixa para passarem o tempo de vela…
No 5º dia meu avô abriu os olhos…nada falou…estava paralisado do lado direito e por volta das 4h da tarde, fez um esgar de dor e …finou-se.
Foi a 1ª vez que vi alguém morrer… tinha 14 anos e 20 dias.
E no dia seguinte foi o funeral. Era hábito os comerciantes fecharem meia porta dos estabelecimentos em sinal de luto ou quem não tinha empregados fechava por completo para ir ao funeral. Calhou ir á janela e vi aquela gente toda ali, esperando o funeral sair, para acompanhar ao cemitério.
Uma das pessoas que mais me marcou, foi a D. Augusta, a mulher do Sr. Arrais. Chegou e antes de cumprimentar, foi beijar o meu avô na testa. E chorava. Só muito mais tarde fiquei a saber que o meu avô os tinha ajudado a estabelecerem-se.
Muitos anos depois, voltei a encontrar a D. Augusta…Eu tinha ido levar o meu filhote à Apepi…ela regressava das compras do mercado… Cruzámo-nos ali na subida da rua da sra Gertudes e ficamos um pouco na conversa... Perguntou-me pela minha mãe, respondi que ia lá a casa nesse momento para ver como ela estava.  Olhou para mim, muito espantada: -Mas tu não vives com os teus pais?  Respondi que não, vivia em frente do mercado com o meu filhote… Aflita, com uma cara de preocupação, só me disse: - Ai, filha, como é que tu consegues??? Se tu não ouves??? Dei-lhe um sorriso e respondi : -Eu só não ouço,  tanto como os outros. De resto faço tudo o que os outros fazem. Quando voltar ao mercado, toque na minha porta e tomamos um café, disse-lhe eu.  Olhou para mim, como se eu fosse não sei o que e deu-me um grande abraço. E cada uma foi para o seu lado…
Boas almas e grandes seres humanos. Encontrei muitas e já se foram  deste mundo.
Continuando …
O funeral do avô decorreu sem incidentes. 
Voltei e vim a falar com a Manuela Ramos, a única das minhas colegas de turma que recordo, ter ido ao funeral.  Ficamos um pouco na praça da Igreja Matriz a conversar. Ela foi para a rua dela e eu para a minha…
Entrei pela porta da cozinha e dei com os meus pais e meus tios, e avó na salinha de visitas…
Minha mãe sentada no sofá, estava ausente…parecia que nem estava ali. Minha avó na cadeira de braços, parecia que nem era nada com ela… E minha tia e o marido em frente do meu pai, aos berros com ele… E fiquei atenta…Minha tia, gritando, dizia- Ó Luís , pela alma do meu querido pai… até que percebi  o que ela estava a pedir… Nada mais nem menos, que o meu futuro e o dos meus irmãos…O mais novo só tinha 9 anos… O  meu coração, naquele momento, caiu aos meus pés, por assim dizer…E fiquei a pensar…” era minha madrinha, como pode pedir uma coisa daquelas ao meu pai e destruir todos os meus sonhos???” Os filhos dela nem tinham ido ao funeral…continuavam  em Vila Real, para não prejudicar os estudos… e a mim…era isto…
Ela renunciou à parte da herança que lhe cabia, renunciou, sim…mas porque sabia que o marido nunca iria pagar um tostão que fosse, das dívidas do pai dela.
O que ela tinha pedido ao meu pai…era muito simples: ela renunciava à parte dela, em troca o meu pai pagava todas as dívidas do sogro.  40 anos depois deram o dito por não dito e puseram os meus pais em tribunal, para fazer partilhas do meu avô... Fácil, não é?  E escreveram lá: não há dívidas… Pois não…40 anos depois já o meu pai tinha pago tudo, vendendo muitas das propriedades que tinha na  aldeia dele. 
Oito longos anos durou este processo…Apesar das testemunhas que contaram toda a verdade, apesar de eu ter dado uma carta, escrita pela mão da minha tia em que ela afirmava: “ EU É QUE SOU A FILHA, E A MINHA PALAVRA ESTÁ DADA E NÃO VOLTA ATRÁS” , para o tribunal de nada valeu: puseram meus primos com herdeiros…
E a juiza escreveu, depois do depoimento das testemunhas que contaram que meu pai tinha pago tudo e tinha comprado a casa de volta: “ AOS COSTUMES, NADA DISSE.”
Justiça???? NÃO EXISTE E NUNCA EXISTIU . NUNCA TIVEMOS JUSTIÇA.
Mas …Deus não dorme…e escreve direito por  linhas tortas: o processo deu entrada no tribunal no dia 19/04/89…e nesse dia, meu tio sentiu-se mal e pediu ao genro que o levasse ao hospital…assim foi…e no dia 19/05/89, exactamente um mês depois, meu tio foi prestar contas a Deus…
E  a Graça minha prima, dizia que queria fazer a vontade do pai…Retorqui que o pai NÂO ERA FILHO do avô.
…E foi assim que virei a má da história… minha prima acusou-me  de provocar a morte do pai… por causa da…casa…a que a mãe dela tinha renunciado,  quarenta anos antes.
Eu que fiquei sem o  curso , que queria, porque a mãe dela pediu…” por alma do pai dela, acabado de enterrar…” ao meu pai…
Isto NÃO é ser família…


​Paula Gameiro

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