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Ainda o Verão de 62…

1/3/2021

 
​Ainda o Verão de 62…
E o Verão continuava a deslizar…
Meus tios, depois do funeral voltaram para Vila Real, em Trás-os –Montes, onde viviam. A reboque levaram os meus irmãos, com a desculpa de que iam assistir às corridas de automóveis…  Mas…a verdade era outra… nada tinham dito aos filhos da morte do avô e não sabiam como iriam reagir, tanto mais que  ele era Padrinho do meu primo e tinha sido o neto mais velho…Ele tinha nessa altura 19 anos, quase 20. Daí terem levado os meus irmãos…como “bengalinha de apoio”, por assim dizer.
Eu fiquei…Mas … apesar de estar a estudar e ter passado de ano…não podia ficar …à “solta”…
Minha mãe, achou que devia aprender a fazer crochet…E vai daí, colocou-me em casa da D. Conceição Pessoa, que vivia naquela casa grande amarela do largo de S. Sebastião.  Nesta altura, já tinham morrido os irmãos, o Sr. Padre Carlos e mais tarde a D. Laura.
A D. Conceição vivia acompanhada da Maria, que era a empregada…Ladina, simpática e sempre despachada, era mais uma amiga para a patroa, a quem cuidava com todo o desvelo , que uma empregada…
…E eu…era a Paulinha…e lá ia todas as tardes, para aquela casa…
Era Verão, tempo de calor…subia as escadas de fora, que estavam de lado…e lá dentro…meu Deus…a porta que dava para o quintal aberta e aquele cheiro tão intenso das flores, que perfumavam todo o ar, cuidadas com tanto carinho pela Maria…que orgulhosa do seu trabalho, quando comentei o odor que dali vinha, me levou ao quintal para apreciar a sua obra.
Poucas flores hoje têm aquele perfume tão intenso. A maioria nem tem cheiro…que tristeza.
Ainda hoje, passados tantos anos…tenho de cheirar as flores e sobretudo a fruta. Se não tem cheiro, não interessa.
A D. Conceição estava sempre na salinha do 2º andar, sentada numa cadeira de praia, daquelas de pano, como as que havia na Praia da  Figueira da Foz.  Mais tarde, a Maria explicou-me que até dormia ali, porque sofria do coração, e como estava forte, só conseguia respirar sentada.
Ali comia, fazia o seu crochet, etc. E  aquelas duas almas, tinham toda a paciência do mundo, para me aturarem…afinal eu tinha acabado de perder o meu avô…
Falamos…muito…eu fiquei a saber histórias que me contavam, a Maria tinha sempre um bolachinha que ela fazia ou qualquer outra coisa para me apaparicar, apesar de eu levar lanche… Também se trabalhava…mas ia ao correr do meu tempo.
Um dia perdi a agulha de crochet e fui à loja para o meu pai me dar outra…Como eu sabia onde estavam , meu pai disse para eu ir buscar. Assim o fiz… Havia vários numeros…e peguei na que me parecia melhor…
Perdi a agulha e devo ter perdido um parafuso na mesma altura… Fiz o naperon: ponto normal…raso…com uma laçada, duas e tres…ponto cruzado, etc e tal…Terminei o trabalho e fartei-me de rir às gargalhadas… As duas senhoras sem preceberem porque me ria daquela forma…Rindo ainda, contei a história de ter perdido a agulha no caminho ..e ter ido buscar outra…que por sinal era…mais grossa. Daí a minha risada… em vez de um naperon quadrado…tinha feito um naperon de forma que parecia um trapézio…uma parte mais larga que a outra. Ainda tenho essa “obra”..Efeitos de adolescencia…
E pelo meio das aulas de crochet, conheci a biblioteca  lá de casa…Fiquei encantada…e mais ainda, quando me disseram que podia trazer para casa qualquer livro para ler.  Nem foi preciso oferecer de novo. Escolhi logo um e veio comigo…Não havia TV…e meu pai e meu avô tinham-me incentivado o gosto pela leitura… e todos os dias trazia um livro, dois ou 3 dias depois, levava de volta…Já leu? Perguntavam admiradas…Sim …e a D. Conceição sempre puxava por mim…queria saber como era o livro..personagens…etc. Eu respondia. E trazia outro…
Minhas férias nesse Verão…foram estas…
Depois a vida muda…fui estudar para Lisboa, por lá fiquei uns anos e depois emigrei…e nem tive tempo de lá ir ver aquelas duas senhoras que me tinham tratado tão bem..
Muito mais tarde, soube que a Maria tinha morrido e a Mariazinha Varela  contou-me depois que tinha trazido a tia para a sua casa e tinha tratado dela até ao final.
É…a vida.
E ela é feita destes pedaços maravilhosos e outros que não são tão maravilhosos.
 
 Paula Gameiro

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